domingo, 21 de dezembro de 2014

RESSUREIÇÃO


por José Francisco Botelho


Quando uma espécie é extinta, acabou. Fim. Mas talvez seja possível trazer de volta animais que desapareceram da face da Terra há dezenas, centenas ou milhares de anos. Conheça os projetos que estão tentando - e conseguindo - fazer isso.

    Imagem: google 

O cenário é uma planície gelada no hemisfério norte. O vento sopra sobre a vegetação rasteira, enquanto a terra estremece sob os passos de uma peluda fera de 4 metros de altura. Sua enorme tromba é ladeada por presas de marfim de mais de 5 metros de comprimento. Atrás da mãe, vem o filhote - um bebê mamute de apenas 1 metro de altura. Por um momento, a mamãe mamute se distrai, arrancando um arbusto com a tromba e o levando até a boca. Nesse instante, um feroz esmilodonte (ou tigre-dente-de-sabre) salta detrás de um rochedo sobre o filhote indefeso. Ouvindo o grito da cria, o mamute larga a refeição e avança contra o predador, com as presas erguidas para golpear o inimigo. A cena épica é observada por um casal de humanos, escondidos em um bosque. Mas não se trata de neandertais vestidos de peles e armados de clavas. É um casal de turistas usando roupas do século 21 - e com celulares em riste para filmar o duelo. Mais tarde, naquele mesmo dia, a briga entre o mamute e o tigre gigante receberá centenas de curtidas no Facebook.

Essa cena pode parecer saída de um livro de ficção científica - como Jurassic Park, de Michael Crichton, que especula sobre o que aconteceria se os dinossauros fossem trazidos de volta à vida. Os tigres-dente-de-sabre desapareceram há cerca de mil anos; os últimos mamutes morreram entre 10 mil e 3 mil anos atrás - e o homem é um dos possíveis responsáveis pelo seu fim. Quando o romance de Crichton foi publicado, em 1990 - e levado ao cinema por Steven Spielberg três anos depois -, a ideia de ressuscitar espécies como essas era, de fato, pura fantasia. Afinal de contas, a extinção sempre foi considerada uma via de mão única: uma espécie extinta seria como uma pessoa morta e enterrada, e nada poderia trazê-la de volta. Mas nos últimos anos, com os avanços da biotecnologia, isso mudou: a desextinção - ou seja, a ressurreição de uma espécie inteira de animais, plantas ou até mesmo de neandertais - passou de livros e filmes para pesquisas científicas sérias. Em várias partes do mundo, há cientistas tentando trazer de volta animais extintos - e obtendo resultados animadores.

Basicamente, existem duas maneiras de ressuscitar uma espécie que não existe mais. A primeira se chama transferência nuclear. É o seguinte. Os cientistas extraem DNA de fósseis do bicho extinto, e implantam no óvulo de uma espécie parecida. Isso gera um animal híbrido, que tem algumas características da espécie extinta. Os híbridos vão sendo cruzados até que, depois de algumas gerações (não se sabe ao certo quantas), você gera animais idênticos aos que haviam sido extintos. Foi isso o que aconteceu com o bucardo, uma espécie de cabra montanhesa que habitava os Pirineus, na divisa da França com a Espanha. Perseguida durante séculos por caçadores em ambos os lados da fronteira, a espécie foi diminuindo - no final dos anos 80, restava apenas uma dúzia de bucardos no mundo. Em 1989, graças a uma iniciativa do governo espanhol, cientistas passaram a monitorar e estudar os últimos sobreviventes. Mas já era tarde demais. Em 2000, o último dos bucardos (uma fêmea, a quem os cientistas haviam apelidado de Celia) foi esmagado pela queda de uma árvore, e a espécie se tornou oficialmente extinta.

Um ano antes da morte de Celia, no entanto, pedaços de sua pele haviam sido coletados - e as células do bucardo continuavam vivas, em laboratórios de Saragoça e Madri. Quando Celia morreu, um grupo de cientistas liderados pelo espanhol José Folch iniciou um projeto que ninguém antes tentara: clonar um indivíduo de uma espécie extinta. Em um processo de clonagem convencional, o material genético é colocado dentro de um óvulo - e o óvulo, após algum tempo no laboratório, vai para o útero de uma fêmea, onde dá origem a um embrião. "E é aqui que está a grande dificuldade em clonar um indivíduo de uma espécie extinta", explica Lawrence Smith - cientista brasileiro, filho de pais ingleses, cujas pesquisas ajudaram na clonagem da ovelha Dolly em 1997. "Mesmo que você tenha o DNA do animal, você não tem uma fêmea viva daquela espécie para fazer a gestação."

Os espanhois resolveram implantar o embrião numa cabra, cujo óvulo teve o DNA removido. Eles tentaram fazer isso muitas vezes. Foram 439 tentativas, que geraram 57 embriões. Todos foram implantados, mas apenas sete cabras engravidaram - e a maioria abortou. Em 30 de junho de 2003, no entanto, uma das cabras deu à luz um clone vivo de Celia. Um dos cientistas segurou nos braços o filhotinho. E, por um breve tempo, a espécie dos bucardos voltou a existir. Mas a primeira desextinção na história da ciência durou apenas dez minutos. A nova Celia nascera com um tumor maciço em um dos pulmões e morreu por falta de ar. Na prática, a espécie havia sido extinta pela segunda vez.


Quebra-cabeça genético

Apesar do fim prematuro do clone, a experiência abriu caminho para outras. Hoje, há diversos projetos de desextinção sendo desenvolvidos. E pode ser apenas uma questão de tempo até que algum deles se mostre 100% bem-sucedido. Além das tentativas de resgatar espécies que já desapareceram, cientistas também estão coletando o DNA de animais em risco de extinção - para ter alguma chance de trazê-los de volta, caso desapareçam. Atualmente, projetos desse tipo estão sendo conduzidos no zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, e também no zoológico de Brasília, em parceria com a Embrapa (leia mais na página 42).

Há pouco tempo, um grupo de cientistas chegou muito perto de ressuscitar o Rheobatrachus silus, ou "sapo de reprodução gástrica" - um esquisitíssimo anfíbio australiano extinto em 1987. O nome popular da espécie se deve aos seus inusitados hábitos reprodutivos: a fêmea liberava um punhado de óvulos, que então eram fertilizados pelo macho. Em seguida, a fêmea engolia os próprios óvulos e gestava os embriões no estômago. Algumas semanas depois, a sapa vomitava os sapinhos inteiros - como se fossem uma porção de comida estragada. Para trazer a bizarra espécie de volta, cientistas australianos liderados pelo pesquisador Mike Archer, da Universidade de New South Wales, introduziram o material genético em óvulos de uma outra espécie de batráquios.

A experiência se arrastou por cinco anos - isso porque as fêmeas dos sapos ovulam apenas uma vez a cada 12 meses. Em março de 2013, algumas centenas de óvulos começaram a se desenvolver, dando origem a embriões de Rheobatrachus. Mas eles sobreviveram apenas alguns dias. "Mesmo a clonagem convencional - usando DNA, óvulos e úteros de uma mesma espécie - ainda é uma técnica ineficiente e lenta, com uma taxa de sucesso que em geral fica apenas em 1%", explica Lawrence Smith. "Quando se tenta clonar entre duas espécies distintas, ainda que aparentadas, as dificuldades se multiplicam, pois jamais se sabe como a informação genética de uma espécie vai se adaptar ao óvulo e à gestação de outra."

Exatamente por isso, alguns cientistas estão buscando a desextinção por outras vias que não a clonagem. É o caso de George Church, da Universidade Harvard. Desde 2011, ele tenta desextinguir o pombo viajante, uma espécie que era extremamente comum nos EUA até o século 19. Relatos da época descrevem as revoadas de pombos viajantes enegrecendo os céus em regiões do leste do país - os pássaros eram tantos que seu peso quebrava os galhos das árvores em que pousavam. Mas muito chumbo foi disparado por caçadores americanos de lá para cá - e o pombo viajante está extinto desde 1913.

Mas, por sorte, há centenas de pombos dessa espécie empalhados em diversos museus dos Estados Unidos. Com pedaços de pele retirados da pata de um deles, Church conseguiu recuperar fragmentos do DNA do pombo - embora ainda não o genoma inteiro. A ideia não é clonar a ave desaparecida, mas introduzir pedaços de seu código genético nas células-tronco de um pombo comum. O pombo resultante seria um híbrido, que iria passando por cruzamentos até recuperar todas as características da espécie (entenda melhor lendo o box da página 41). Caso funcione, essa mesma técnica poderia ser utilizada para ressuscitar espécies desaparecidas há muito tempo, como o mamute, o tigre-dente-de-sabre ou o auroque - um bovino selvagem, ancestral do gado moderno, desaparecido da Terra no século 17.


Cacarejo jurássico

Animais como o pombo, o boi e a cabra apresentam algumas características que facilmente remetem ao pombo viajante, ao auroque e ao bucardo - seus ancestrais distantes e já extintos. Até aí, nada de anormal. Mas você sabia que dentro de um simples frango existem resquícios de dinossauro? E há quem acredite que isso seja a chave para trazê-los de volta à Terra. "Nós estamos estudando como criar um dinossauro a partir de uma galinha", diz Jack Horner, paleontólogo da Universidade de Montana e autor do livro How to Build a Dinosaur ("Como criar um dinossauro", ainda inédito no Brasil). A ideia é acionar determinados genes - que as galinhas já possuem, mas que estão inativos.

A técnica se chama engenharia genética reversa. Até os sete dias de gestação, toda galinha tem uma espécie de mão com três dedos, exatamente como os crocodilos e dinossauros. A partir da segunda semana, acontece uma fusão e os dedos se unem para formar a ponta das asas. Com a manipulação genética, seria possível brecar esse processo - fazendo com que a galinha tivesse mãos e dedos em vez de asas. Os cientistas da Universidade de Montana estão tentando usar esse processo para desenvolver cauda em uma galinha. O Frankenstein jurássico ainda não existe, mas já ganhou o apelido de dino-chicken - em bom português, "galinhossauro". "Não tenho dúvidas de que um dia cientistas conseguirão desenvolver animais que se pareçam com dinossauros e colocá-los em parques para exibição", afirma Horner, que serviu de inspiração para o personagem Alan Grant, em Jurassic Park.

Mas dentre os animais extintos há milhares de anos, é mesmo o lanudo paquiderme do norte quem tem mais chances de um dia voltar a pisotear a terra. Em abril de 2012, cientistas russos descobriram no gelo da Sibéria um filhote de mamute em excelente estado de conservação - o bicho, uma fêmea apelidada de Yuka, morreu com dois anos e meio de idade, há 39 mil anos. Yuka provavelmente morreu após ficar atolada em um pântano cuja lama mais tarde congelou. A parte superior de seu cadáver foi consumida por predadores, inclusive caçadores humanos. Mas a parte inferior do corpo ficou preservada no gelo, incluindo a tromba, partes da mandíbula e da cabeça, as patas e os tecidos da língua e da boca - o que faz de Yuka o exemplar de mamute mais bem preservado já encontrado.

Em maio de 2013, uma nova notícia sobre Yuka aumentou a expectativa. Um grupo de pesquisadores russos e sul-coreanos conseguiu extrair uma amostra de sangue dos tecidos da mamutezinha. O sangue ainda está sendo analisado, e ninguém sabe se serão encontradas amostras viáveis de DNA. Mas, se isso acontecer, o material genético poderá ser usado para criar um clone - e trazer os mamutes de volta à vida. O projeto é liderado pelo cientista coreano Hwang Woo-Suk, que em 2005 ficou conhecido por ter sido o primeiro a clonar um cachorro. Se conseguir extrair o DNA, ele pretende implantá-lo num óvulo de elefante (espécie escolhida por ser geneticamente similar ao mamute).

Nada garante que isso vá dar certo. Após milênios no gelo, é possível que o DNA esteja danificado. E mesmo que a tentativa seja bem-sucedida, será que existe lugar no mundo de hoje para um filhote de mamute - ou de tigre-dente-de-sabre, ou de dinossauro?


Quem precisa de mamutes?

A ideia da desextinção pode ser fantástica - mas, para alguns autores e pesquisadores, ela é uma bobagem. "A desextinção, na verdade, é uma reinvenção", opina Brian Swiket, jornalista especializado em evolução e autor do livro Written in Stone ("Escrito em Pedra"), no qual analisa o tema. Os cientistas não podem garantir que um mamute clonado vá se comportar como um mamute da Era do Gelo - até porque sequer existem métodos para fazer essa comparação. "Os mamutes, como os elefantes modernos, ensinavam hábitos aos seus filhotes e tinham formas de cultura em seus rebanhos. Mamutes clonados não teriam pais, nem rebanhos e, portanto, não se comportariam como verdadeiros mamutes", diz Swiket. Outro empecilho apontado pelos críticos da ressurreição das espécies: em muitos casos, os hábitats desses animais já desapareceram. "O mamute, por exemplo, vivia em ambientes muito frios e secos. Por causa das mudanças climáticas, hoje há poucos lugares com essas características", diz Swiket. "Sem seu hábitat original, as espécies desextintas poderiam simplesmente se extinguir outra vez", completa. É um ponto relevante. Seria cruel e inútil trazer de volta um bicho apenas para vê-lo morrer de novo. O contrário disso também poderia causar problemas. Uma espécie desextinta poderia acabar se adaptando bem demais à sua nova vida, dizimando as populações de outros animais e gerando desequilíbrios ecológicos. Mas nem todo mundo concorda com essa possibilidade. "Muitas espécies desaparecidas tinham importância vital em grandes ecossistemas", diz o geneticista George Church, da Universidade Harvard. Ele cita um exemplo: graças aos mamutes, as tundras no norte da Rússia foram um dia cobertas de grama. A terra, antes afofada pelas patas dos gigantes peludos e fertilizada por seu esterco, se tornou dura e árida após a extinção desses animais. "Se os mamutes fizeram isso milhares de anos atrás, podem fazer isso no futuro", acredita Church, que também aposta na possibilidade de reviver bichos como o dodo, o auroque e o tigre da tasmânia. Ao trazer de volta certos animais, estaríamos ressuscitando também um pouco do mundo onde viveram.

O ponto máximo da desextinção seria trazer de volta o neandertal - que foi nosso parente mais próximo (e que nós mesmos varremos da face da Terra). O genoma dos neandertais já foi sequenciado, em 2010. Teoricamente, seria possível tentar produzir um. Para alguns pesquisadores, o estudo da fisiologia dos neandertais ajudaria a descobrir tratamentos para doenças como a osteoporose - à qual eles eram imunes. "Também poderiam ser feitos pequenos transplantes de tecidos de neandertais para seres humanos, deixando-os mais resistentes a doenças", acredita Church. Mas há algumas barreiras morais que parecem intransponíveis. Que mulher aceitaria carregar um bebê neandertal no útero? Também há uma questão jurídica, já que legalmente só seria permitido clonar um ser humano com o consentimento do próprio. Neandertais pertencem ao gênero Homo, o mesmo dos humanos modernos. E é complicado obter o consentimento de alguém cuja espécie deixou de existir há mais de 30 mil anos.

Imagem: gettyimages.com
Mamute (Mammuthus primigenius)

Extinto há - 3 mil anos

Ressuscitador - Museu de Mamutes de Yakutsk (Rússia)


Como - Em 2013, os cientistas retiraram uma amostra de sangue do fóssil de Yuka, uma mamute fêmea morta há 39 mil anos. Agora, estão analisando esse sangue para tentar achar uma célula intacta, que contenha DNA completo e legível. Se for encontrada, será implantada num óvulo de elefante.

Bucardo (Capra pyrenaica pyrenaica)

Extinto em - 2000

Ressuscitador
 - Instituto Nacional de Pesquisa (Espanha)

Como 
- Os cientistas coletaram DNA de Celia, um dos últimos exemplares dessa subespécie de cabra. Entre 2003 e 2006, ele foi implantado em 400 óvulos. Um dos embriões deu certo e gerou um bucardo. Mas ele morreu após dez minutos. O projeto foi retomado em novembro de 2013.

Sapo de reprodução gástrica (Rheobatracus silus)

Extinto em - 1987

Ressuscitador - Universidade de New South Wales

Como 
- Quando a espécie estava quase extinta, amostras de seu DNA foram congeladas. Os cientistas introduziram esse material em óvulos "vazios" (com DNA removido) de outras espécies. Nasceram centenas de embriões. Agora, a meta é dar o passo seguinte - e criar girinos.

Pombo viajante (Ectopistes migratorius)

Extinto em - 1913

Ressuscitador - Universidade Harvard
Como 
- Em 2011, os pesquisadores conseguiram extrair DNA de animais empalhados, e agora estão tentando implantar esse material nas células-tronco de pombos comuns. O animal resultante, se nascer, será um híbrido, com algumas características do pombo viajante, que serão transmitidas aos descendentes. Esses descendentes serão cruzados entre si, para ir purificando o código genético até chegar a um pombo genuinamente Ectopistes.        





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Texto capturado online de http://super.abril.com.br/ciencia/ressurreicao-800201.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super em 21 de dezembro de 2014.

sábado, 12 de abril de 2014

SEGREDOS DO SONO

O que acontece enquanto você dorme



Nunca dormimos tão mal - e tão pouco. Os brasileiros estão dormindo 1h30 a menos, em média, do que na década de 1990, e 63% têm problemas de sono. Agora, pesquisas de última geração começam a desvendar o que acontece durante a noite - e revelam qual é a verdadeira chave para dormir bem.


por Anna Carolina Rodrigues

Ken Parks, de 23 anos, era casado e tinha uma filhinha de 5 meses. Morava com a esposa e a criança em Toronto, no Canadá. Até que um dia perdeu o emprego. Os sogros, com quem ele se dava extremamente bem, se ofereceram para ajudá-lo financeiramente. Então Ken pegou seu carro e foi até a casa deles. Quando chegou, matou a sogra a facadas e tentou enforcar o sogro. Seria apenas mais um caso de crime em família, exceto por um detalhe: Ken estava dormindo, tendo uma crise grave de sonambulismo, quando fez tudo aquilo. Durante o julgamento, ele foi submetido a exames de eletroencefalograma, que apontaram grandes distorções em suas ondas cerebrais, típicas de sonâmbulos. Acabou absolvido - e, desde então, mais 68 casos do chamado `homicídio sonâmbulo¿ foram registrados no mundo.


São casos extremos de distúrbio do sono. Mas dormir mal não tem nada de extremo. Na verdade, é a coisa mais comum do mundo - e está piorando. Hoje, os brasileiros dormem em média 1h30 a menos do que há 20 anos, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto do Sono de São Paulo com 1.024 pessoas. São apenas 6h30 por noite, bem menos do que os entrevistados desejariam dormir (em média, 8h10). E 63% têm algum problema de sono.


Mas a ciência finalmente começou a decifrar os segredos desse mundo misterioso no qual ficamos mergulhados por quase um terço da vida. Novos estudos estão revelando por que estamos dormindo tão mal, como resolver isso e o que realmente acontece no corpo durante a noite.

Por que a gente dorme?


Dormir é uma delícia - mas, do ponto de vista da evolução, é um comportamento difícil de explicar. Para o homem das cavernas, dormir podia significar nunca mais acordar, pois a chance de ser atacado por um predador era grande. E, mesmo hoje, em que esse risco é muito menor, o sono continua sendo meio paradoxal, porque nos faz desperdiçar um terço do nosso tempo de vida consciente.


O sono é uma das áreas mais jovens da ciência. Até a metade do século 20, os cientistas acreditavam que o cérebro se desligasse totalmente durante a noite, com o único objetivo de descansar. Hoje, sabemos que não é bem isso. Dormimos por três motivos: para economizar energia, para fazer manutenção do corpo e para consolidar a memória.


O primeiro é fácil de entender. Enquanto você dorme, seu corpo consome menos energia - pelo simples fato de você estar imóvel e relaxado. Se não dormíssemos, teríamos de consumir um número muito maior de calorias para sobreviver, o que seria extremamente difícil para os homens primitivos. Num mundo onde o alimento era escasso, dormir era fundamental para não morrer de fome - mesmo que isso aumentasse o risco de ser atacado por animais selvagens durante a noite.


A segunda função do sono tem a ver com os processos reparadores que seu corpo executa enquanto você dorme. Na década de 1980, cientistas da Universidade de Chicago comprovaram isso realizando um teste com ratos. Após duas semanas impedidos de dormir, os bichos simplesmente morreram. Eles tinham desenvolvido manchas e feridas que não saravam e, independente da quantidade de comida que ingerissem, só perdiam peso. Até que, de uma hora para a outra, apagavam e não acordavam mais. Morte. O mesmo estudo foi repetido no ano 2000, e a conclusão foi a mesma: não dormir mata. Mas os pesquisadores nunca tinham conseguido entender o porquê disso.


A possível explicação só veio no ano passado, em um estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido. Os cientistas mantiveram pessoas acordadas por 29 horas e perceberam uma alteração: o nível de células brancas no sangue delas aumentou bastante, atingindo a mesma quantidade registrada em pessoas feridas. As células brancas são o elemento central do sistema imunológico. Quando você fica sem dormir, ele dispara - o que, em tese, poderia comprometer a habilidade do organismo de combater infecções.


Não é só. "O organismo libera hormônios como cortisol e adrenalina, respostas típicas de situações de estresse", diz a médica Luciana Palombini, do Instituto do Sono. E isso desencadeia uma série de processos já nas primeiras 24 horas. Primeiro, a pressão sanguínea aumenta. Logo depois, o metabolismo se desregula, e a pessoa sente uma vontade incontrolável de comer carboidratos (um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, constatou que quem dorme tarde e/ou mal tende a ingerir quase 250 calorias a mais por dia). Em seguida, se a pessoa continuar acordada, começam as alucinações. Sim, alucinações.


Veja o caso do estudante americano Randy Gardner. Em 1965, ele aceitou participar de uma experiência na Universidade Stanford - na qual ficou 264 horas (exatos 11 dias) sem dormir. É a maior experiência de privação do sono já registrada cientificamente; e teve efeitos terríveis sobre o pobre Randy. A partir do terceiro dia, ele começou a perder a capacidade de raciocínio, a ficar paranoico e enxergar coisas que não existiam. Ao final da experiência, Randy dormiu 14 horas seguidas. Segundo apontaram testes na época, não ficou com nenhuma sequela do experimento.


Mas não dormir, ou dormir mal, pode estar na raiz de doenças neurológicas gravíssimas. Num estudo recém-publicado, pesquisadores da Universidade de Rochester, em Nova York, mostram que o cérebro aproveita o sono para fazer uma limpeza - descartando células mortas e moléculas da proteína beta-amiloide, cujo acúmulo impede as conexões entre neurônios e provoca Alzheimer, doença incurável que leva à perda de memória. O que nos leva à terceira função do sono: gravar - e destruir - as suas memórias.



Sono, sonhos e memória


O seu cérebro não fica `desligado¿ enquanto você dorme. Longe disso. O sono é neurologicamente agitado, com quatro etapas que se sucedem e se repetem durante a noite (veja no infográfico da página 49). A mais interessante é justamente a quarta, identificada pela sigla REM - "movimento rápido dos olhos", em inglês. É o momento em que a pessoa mais descansa, e também é a fase em que ela sonha -movendo os olhos rapidamente, como se estivesse vendo coisas.


Quando uma memória se forma na sua mente, o cérebro constrói uma relação semipermanente entre os neurônios envolvidos com aquilo. Por exemplo. Vamos supor que você vá a um churrasco. Está fazendo um sol insuportável, o churrasqueiro deixa queimar a carne, você fica com fome. Mas nem tudo foi ruim - você conheceu uma nova pessoa, Maria, que se tornou sua amiga. Essas experiências todas ativam uma enorme quantidade de neurônios no seu cérebro - os que registram a sensação de calor, os responsáveis por processar cheiros (no caso, de carne queimada) e vários grupos que analisam todas as características da Maria, como sua altura, formato do rosto, voz, cor dos olhos, etc.


E o cérebro fortalece as ligações entre essa rede de neurônios. É como se eles ficassem "amigos". Passam a se comunicar mais facilmente entre si. Aí, quando você se lembrar de algum detalhe do churrasco ou da Maria, aquele mesmíssimo conjunto de neurônios será acionado - e todos os detalhes daquele dia voltarão à sua mente. É assim que a memória humana funciona.


Mas ela também age enquanto você dorme. Sabe quando você vivencia algo durante o dia, e aquela memória reaparece - muitas vezes exagerada ou distorcida - durante os sonhos? Acontece com todo mundo. Um estudo feito pelo psicólogo inglês Mark Blagrove constatou que os acontecimentos costumam aparecer nos sonhos pelo menos três vezes: na primeira, na quinta e na sétima noite de sono após vivenciados. Mas por quê? E por que as memórias surgem distorcidas, às vezes apimentadas com fantasia e coisas que jamais aconteceram? Existe uma teoria para explicar isso.


É a hipótese da homeostase sináptica (SHY, em inglês), criada por dois psiquiatras da Universidade de Wisconsin. Apesar do nome complicado, o conceito é simples: durante o sono, o cérebro desfaz algumas das conexões entre neurônios, ou seja, ele apaga memórias. O corpo libera ácido gama-aminobutírico, uma substância que enfraquece as relações entre os neurônios e deleta algumas das memórias adquiridas durante o dia. Objetivo: liberar `espaço¿, capacidade cerebral, para que você continue sendo capaz de aprender coisas novas.


Essa tese foi reforçada por uma pesquisa do National Institutes of Health (laboratório do governo americano), que este ano descobriu algo intrigante. Durante o sono, os neurônios do hipocampo, região cerebral que coordena a formação de memórias, disparam "ao contrário". Ou seja, eles emitem sinais elétricos na direção oposta de quando a pessoa está acordada. Para os cientistas, isso é um indício de que há memórias sendo apagadas.


Para determinar quais lembranças são menos importantes e podem ser deletadas, o cérebro vê se elas têm ligação com outras informações já armazenadas na sua mente. É por isso que, se você e a Maria tiverem algum conhecido em comum, a chance de que você se lembre dela é maior. Senão, o cérebro irá apagá-la. "Esse processo funcionaria como um desfragmentador de disco no computador, arrumando as nossas memórias", explica a neurologista Dalva Poyares, da Unifesp.


Esse apagamento supostamente acontece na terceira fase do sono, que antecede os sonhos. Ou seja: quando os sonhos começam, é possível que o cérebro ainda esteja sob influência da destruição de memórias, ou haja resíduos incompletos delas - e isso explique o teor de fantasia nos sonhos. Mas não existem estudos comprovando a relação. Já a conexão entre sono, memória e aprendizado é fartamente conhecida. Diversas experiências demonstraram que nossa capacidade de aprender é maior de manhã, logo após acordar, do que de noite. Dormir ajuda a aprender. Mas não é só isso. Também é possível aprender... dormindo. Nos anos 70 e 80, essa promessa era muito usada por charlatães, que tentavam vender cursos de inglês "durante o sono". A pessoa escutava uma fita com lições do idioma enquanto dormia e supostamente acordava sabendo falar inglês. Não funcionava, claro. Mas um estudo feito pela Universidade Northwestern constatou que é, sim, possível manipular - e reforçar - o aprendizado de uma pessoa enquanto ela dorme.


Na experiência, 50 voluntários foram expostos a uma longa sequência de imagens. Cada imagem vinha acompanhada de um som específico (como o barulho de uma explosão, por exemplo). Feito isso, os voluntários foram dormir. Só que metade deles recebeu um estímulo durante a noite. Quando eles atingiram a terceira fase do sono, os cientistas tocaram os sons que tinham sido associados às imagens. No dia seguinte, todo mundo acordou e os voluntários fizeram um teste de memorização. Quem tinha sido exposto aos sons conseguiu se lembrar de mais imagens, e em ordem mais correta. "Estímulos externos durante o sono podem ter influência (sobre o aprendizado)", diz o psicólogo Ken Paller, líder do estudo. "A nossa pesquisa mostra que a memória é reforçada, com a reativação de informações durante à noite", explica o psicólogo Paul J. Reber, coautor da experiência. Ou seja: não é possível aprender algo do zero enquanto se dorme. Mas é possível reforçar, dormindo, a memorização de algo que se aprendeu acordado.


Vale lembrar que a experiência da Northwestern envolve informações triviais (uma sequência de imagens). Não há comprovação, ao menos por enquanto, de que esse efeito se estenda a aprendizados mais complexos, como idiomas ou as disciplinas da faculdade. Não vale a pena dormir ouvindo uma fita com a voz dos seus professores. Melhor garantir uma boa noite de sono. Só que isso está ficando cada vez mais difícil.

Medieval versus moderno


Um estudo da Universidade de Virgínia estudou a rotina das pessoas no século 15, e descobriu que as pessoas costumavam dormir em duas etapas. Primeiro, elas dormiam do entardecer até a meia-noite. Aí acordavam, ficavam despertas por uma ou duas horas e depois voltavam a dormir até o dia clarear. Isso foi comprovado na prática pelo psiquiatra americano Thomas Wehr, do National Institute of Medical Health. Nos anos 90, ele confinou um grupo de voluntários em alojamentos sem luz elétrica. Eles eram obrigados a realizar atividades durante o dia, com o sol, e descansar durante a noite, por causa da ausência de luz. Após algumas semanas nessa rotina, algo curioso aconteceu: os voluntários passaram a apresentar o mesmo tipo de sono segmentado da Idade Média. E estavam sempre super-relaxados - descobriu-se que, no intervalo entre esses dois sonos, o corpo liberava prolactina, o mesmo hormônio que causa a sensação de relaxamento após o orgasmo.


Hoje em dia, dormimos de outra forma, em apenas um bloco. Isso é um subproduto da revolução industrial, que elevou a jornada de trabalho a 16 horas por dia - e limitou quando, e quanto, as pessoas poderiam dormir. Até hoje, dormir durante o dia é visto com preconceito. "Precisamos descansar. Descanso faz parte da vida. Ele ajuda nossa produtividade, melhora nosso humor e nos deixa mais criativos", diz a psicóloga americana Sara Mednick, autora de estudos que mostram o efeito positivo da soneca. "As pessoas tomam café para ficarem acordadas e quando chega a noite tomam um remédio para dormir. Será que esse é mesmo o melhor jeito de encarar uma semana de trabalho?", questiona.


Por isso, cada vez mais gente toma remédios para dormir. No Brasil, os três medicamentos tarja-preta mais vendidos (Rivotril, Lexotan e Frontal) são ansiolíticos, que acalmam e ajudam a dormir - e juntos vendem quase 15 milhões de caixas por ano. O problema é que eles, como todos os remédios que induzem sonolência, podem causar dependência física. A indústria farmacêutica ainda não conseguiu desenvolver uma droga para dormir que seja totalmente eficaz e tenha risco zero. Mas continua tentando. Sua nova esperança é o suvorexant, um remédio que inibe a hipocretina, um neurotransmissor responsável pela vigília. Ou seja: em vez de induzir o sono, como os medicamentos atuais, simplesmente anula a substância que deixa a pessoa acordada. "Estamos entusiasmados, pois a expectativa é que esse remédio não seja viciante", diz Belen Esparis, médica do hospital Mount Sinai, em Nova York, e uma das principais especialistas do mundo em sono. Mas o suvorexant foi barrado pela FDA (órgão do governo americano que aprova a comercialização de remédios), que pediu mais testes.


Uma solução mais segura, e possivelmente muito eficaz, é um aparelho chamado Somneo. Ele nasceu de pesquisas da Darpa (divisão de projetos avançados do Pentágono), que queria encontrar um jeito de fazer soldados ficarem até cem horas acordados sem sofrer. Não deu certo, mas levou à criação do aparelho, que usa várias técnicas para melhorar a qualidade do sono. Trata-se de uma máscara que cobre o rosto, as orelhas e parte da cabeça e aquece levemente a região dos olhos - o que, estudos comprovaram, faz a pessoa adormecer mais rápido e passar mais rapidamente à fase de sono profundo. A máscara também permite ao usuário programar exatamente a quantidade de tempo que deseja passar dormindo. Ela tem sensores de eletroencefalografia, que monitoram a transição entre as fases do sono e determinam qual o melhor momento para despertar a pessoa - liberando uma luz que aumenta de maneira gradual. A ideia é que essa máscara seja distribuída aos militares em guerras. Mas, como muitas das tecnologias inventadas para uso militar, ela provavelmente acabará tendo uma versão comercial.


Uma possibilidade ainda mais ousada é manipular diretamente as ondas cerebrais, ajudando a pessoa a se manter dormindo ou pular para estágios mais profundos do sono. A técnica se chama ETCC (estimulação transcraniana por corrente contínua), e consiste em aplicar uma corrente elétrica bem fraca, por meio de eletrodos, em certas áreas do cérebro. Cientistas da Universidade de Lübeck, na Alemanha, usaram a ETCC para fazer com que voluntários passassem mais rapidamente pelas duas primeiras fases do sono e ficassem mais tempo na terceira, mais profunda e relaxante. Uma experiência similar, desta vez na Universidade de Wisconsin-Madison, mostrou que é possível desencadear diretamente o sono profundo emitindo campos magnéticos sobre o cérebro. Segundo os pesquisadores, isso significa que seria possível ter os mesmos benefícios fisiológicos de oito horas de sono em apenas seis. Isso seria o equivalente a um mês `de vida¿, acordado, a mais por ano. Algo extremamente tentador para muita gente. E os voluntários não apresentaram efeitos colaterais. Mas as máquinas necessárias ainda são grandes, caras e seu uso constante pode ter conse-quências imprevisíveis a longo prazo. Não devem chegar ao seu quarto tão cedo. Mas existe uma solução para dormir melhor. E não é remédio nem máquina.


A chave do bom sono


Você já deve ter ouvido as recomendações mais manjadas. Faça exercícios. Tenha uma alimentação balanceada. Tente evitar o estresse. Não tome café de noite. Maneire no álcool. Tudo isso é verdade - e é essencial para dormir bem. Mas a epidemia de insônia no mundo tem outra raiz.


O sono é coordenado por um hormônio chamado melatonina. Ela é produzida pela glândula pineal, bem no meio do cérebro, e é a chave do "relógio interno" que nos faz dormir e acordar em ciclos de 24 horas. A melatonina também está presente em outros animais, em plantas e até em micróbios. Ela é um mecanismo que a natureza criou para adaptar os seres vivos ao ritmo do Sol. Conforme começa a escurecer, o organismo começa a liberar mais melatonina - e você sente cada vez mais sonolência, até apagar. De manhã, com tudo claro, o nível de melatonina cai, e você acorda.


Essa é a ordem natural das coisas. O problema é que o mundo moderno, e em especial a tecnologia, está bagunçando essa ordem. Depois que anoitece, continuamos a ver televisão e usar celular, computador, tablets, etc. A humanidade vive rodeada por telas que emitem luz. E isso desregula o ritmo do organismo. "Como o cérebro não sabe qual a diferença entre luz artificial e a do Sol, ele pensa que ainda é de dia", diz Simone Petera, especialista em medicina do sono. Com isso, o corpo reduz a produção de melatonina, e a pessoa não consegue dormir bem.



Existe gente que toma melatonina em comprimidos para tentar dormir melhor. Ela não tem registro oficial na Anvisa, mas não é proibida - pode ser encontrada em lojas de suplementos nutricionais. Mas não é recomendada. "A melatonina não é uma pílula para dormir muito boa, pois o organismo já a produz naturalmente", diz Belen Esparis. Se for tomada em doses erradas, pode atrapalhar o sono. Isso sem contar possíveis efeitos colaterais de longo prazo, como alterações no ciclo menstrual. O melhor a fazer é controlar a iluminação durante a noite - e com isso aumentar naturalmente o nível de melatonina no corpo.


As telas de TV e de gadgets emitem luz com temperatura (tonalidade) de 5.500 graus Kelvin, a mesma que o Sol emite ao meio-dia. Ou seja: são especialmente ruins para o sono. Mas uma experiência feita pela Universidade de Basileia, na Suíça, constatou que a luz avermelhada, típica do pôr do sol, é muito menos danosa. E você pode regular suas telas para que elas tenham esse tom. Na televisão, basta selecionar o modo "Cinema". Nos celulares e tablets Android, instalar um aplicativo chamado Twilight. E no PC e Mac, um programa chamado F.lux. São todos grátis, ou seja, não custa experimentar (no iPhone e no iPad, só é possível instalar o aplicativo F.lux por meio de jailbreak - destravamento do sistema -, pois a Apple não autoriza o uso do programa). E nunca use lâmpadas de luz fria no quarto. Fazer esses ajustes deixa o ambiente mais agradável e dá resultado: o estudo de Basileia mostrou que as pessoas expostas à luz "quente" durante a noite produzem até 40% mais melatonina do que quem recebe luz fria.


Mas à noite o ideal é deixar as telas de lado e ler algo que não emita luz, como um livro ou revista. E, se mesmo assim o sono não vier, não se culpar por isso. Dormir meio mal, de vez em quando, é a coisa mais normal do mundo.


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Fonte: http://super.abril.com.br/saude/acontece-enquanto-voce-dorme-779132.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super

terça-feira, 1 de abril de 2014

VENENOS

Qual é o veneno mais venenoso do mundo?

por Yuri Vasconcelos | Revista Mundo Estranho - Edição 92
É a toxina botulínica, uma proteína produzida pela bactéria Clostridium botulinum, causadora do botulismo, intoxicação alimentar rara, mas que pode ser fatal. O poder mortífero de um veneno é medido pela chamada "dose letal 50" (DL50), que é a quantidade capaz de matar, em até 14 dias, metade de uma população de animais usados para teste. No homem, a DL50 da toxina botulínica é de apenas 0,4 nanograma por quilo - um nanograma equivale a um bilionésimo de grama. Ou seja, para aniquilar um jovem de 50 quilos, por exemplo, seria preciso apenas irrisórios 20 nanogramas do composto! Há milhares de tipos de veneno - que podem ter origem animal, mineral, vegetal ou ser produzidos em laboratório -, e, ao longo da história, vários têm sido usados para matar. Confira a lista das substâncias mais letais que existem - e fique longe delas!



Mantenha distância
Substâncias mais letais do planeta são toxinas de bactérias
8. CIANURETO
Origem - Vegetais, como a mandioca, ou sintetizado em laboratório
Forma de contaminação - Ingestão ou inalação
Dose letal* - 5 miligrama/kg
Antídoto - Nitrito de sódio
Também chamado de cianeto, esse composto existe na forma de gás ou de pó. Ele destrói as células do sangue, causa parada respiratória e debilita o sistema nervoso central. Após a derrota alemã na Segunda Guerra, muitos oficiais nazistas se mataram engolindo uma cápsula de cianureto
7. ESTRICNINA
Origem -Planta Strychnos nux vomica
Forma de contaminação - Ingestão, inalação ou contato com a pele
Dose letal* - 2,3 miligrama/kg
Antídoto - Não tem. Diazepan intravenoso ameniza os sintomas
Sintetizada no início do século 19, a estricnina é um pó usado como pesticida para matar ratos. O envenenamento gera convulsões, espasmos musculares e morte por asfixia. Apesar disso, no passado já foi usada como anabolizante, para aumentar as contrações musculares de atletas!
6. SARIN
Origem -Sintetizado em laboratório
Forma de contaminação - Inalação
Dose letal* - 0,5 miligrama/kg
Antídoto - O remédio atropina
Criado pelos nazistas em 1939, o gás sarin é uma das armas químicas mais poderosas que existem. Em contato com o organismo, o veneno debilita os músculos, causando parada cardíaca e respiratória. Foi esse o gás usado num atentado ao metrô de Tóquio em 1995, que matou 12 pessoas e feriu outras 5 mil
5. RICINA
Origem -Mamona (Ricinus communis)
Forma de contaminação - Ingestão ou inalação da substância
Dose letal* - 22 microgramas/kg
Antídoto - Não tem
Considerada o mais letal veneno de origem vegetal, a ricina é uma proteína isolada das sementes da mamona. O envenenamento provoca dor de estômago, diarreia e vômito com sangue. Uma semente de mamona tem ricina suficiente para matar uma criança. De tão letal, é usada até em ataques bioterroristas
4. TOXINA DIFTÉRICA
Origem -Bacilo Corynebacterium diphtheriae
Forma de contaminação - Gotículas de saliva da fala ou espirro de pessoas contaminadas
Dose letal* - 100 nanogramas/kg
Antídoto - Soro antidfitérico
O sujeito que se contamina com essa toxina pena um bocado com uma doença infecciosa aguda, a difteria, que atinge órgãos vitais, como coração, fígado e rins. Há vacina contra difteria, mas a taxa de letalidade ainda é bastante alta, beirando os 20%
3. SHIGA-TOXINA
Origem -Bactérias dos gêneros Shigella e Escherichia
Forma de contaminação - Ingestão de bebidas ou alimentos contaminados
Dose letal* - 1 nanograma/kg
Antídoto - Não tem. Tratam-se os sintomas até o veneno ser expelido pelo corpo
A intoxicação causa uma diarreia tão forte que pode levar à morte. O veneno destrói a mucosa do intestino, causando hemorragia e impedindo a absorção de água. A pessoa fica desidratada e faz cocô com sangue. Se não for tratada, mata 10% dos afetados
2. TOXINA TETÂNICA
Origem - Bactéria Clostridium tetani
Forma de contaminação - Contato dos esporos da bactéria com ferimentos na pele
Dose letal* - 1 nanograma/kg
Antídoto - Soro antitetânico
Essa é a toxina causadora do tétano, doença que ataca o sistema nervoso provocando espasmos musculares, dificuldade de deglutição, rigidez muscular do abdome e taquicardia. Estima-se que 300 mil pessoas se contaminem com o veneno por ano no mundo - desse total, metade morre!
0,00005 mg de toxina botulínica mataria:
1. TOXINA BOTULÍNICA
Origem - Bactéria Clostridium botulinum
Forma de contaminação - Inalação ou ingestão de água ou alimentos contaminados
Dose letal* - 0,4 nanograma/kg
Antídoto - Antitoxina trivalente equina
Dez mil vezes mais potente do que os venenos de cobra, essa toxina age sobre o sistema neurológico, causando paralisia dos músculos respiratórios e morte. Curiosamente, em pequenas doses, essa substância é usada em tratamentos estéticos para amenizar rugas - é o famoso Botox
* dose letal caso os animais tivessem a mesma constituição biológica do homem
Consultoria - Cyro Hauaji Zacarias, biomédico, consultor em toxicologia e mestrando da Universidade de São Paulo (USP)

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Capturado online de http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-o-veneno-mais-venenoso-do-mundo em 01 de abril de 2014.

sábado, 25 de janeiro de 2014

O Caminho da Insulina no Corpo Humano

Esta animação produzida por "Mechanisms in Medicine" descreve o caminho que a insulina e a glicose percorre até chegar nas células de todos os tecidos do corpo.


   Quando a comida é ingerida ela percorre um longo caminho pelo trato digestivo e intestino então ela é quebrada em componentes menores para ser absorvida e cai na corrente sanguínea. Um dos nutrientes absorvidos é a glucose, um açúcar simples. A glucose é absorvida pelo estomago e intestinos e depois entra na corrente sanguínea. Ela percorre a circulação até todas as células do corpo.
    Uma vez absorvida pela corrente sanguínea a glucose faz o nível de açúcar no sangue subir. Este aumento do nível de açúcar no sangue envia um sinal as células beta do pâncreas, que respondem secretando na circulação o hormônio insulina.A insulina é necessária para glucose alcançar e ser usada pelos vários alvos importantes em todos os tecidos do corpo. Entre eles estão incluídos o fígado, os muculos e o tecido adiposo. A insulina é necessária para manter os níveis de açúcar nos sangue estáveis no corpo.
   A insulina circulante se liga aos receptores específicos localizados na membranas celulares dos tecidos em todo o corpo.Após a ligação um sinal é enviado para o núcleo da célula, instruindo-as a transportar canais de glucose para  a superfície da célula. Estes canais permitem que a glucose entre na célula. A glucose entra na célula através de um processo chamado difusão facilitada.





Fonte: http://www.MechanismsinMedicine.com


Obs: você pode assistir este vídeo com legenda em português, para isso realize o procedimento mostrado na imagem abaixo.